Produção social
Com uma agência digital no Complexo da Maré, músico
carioca aplica o conhecimento tecnológico de jovens dos morros na
criação de trabalhos inspirados na cultura das comunidades do Rio de
Janeiro
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FOTO: MARCOS DE PAULA/ESTADÃO |
”O
papel de uma agência não é apenas vender um produto, mas também fazer
proposições a partir da fala da favela.” Anderson França, responsável
pela agência digital Dharma Comunicação
SÃO PAULO – Primeiro vieram as ONGs. Depois, as Unidades de Polícia
Pacificadora (UPPs). Agora é a hora das agências de comunicação digital
chegarem às favelas do Rio de Janeiro. E a primeira delas está
funcionando a pleno vapor no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.
A Dharma Comunicação tem sete funcionários fixos e vários
colaboradores que atuam por projeto. Fundada há dois anos, a agência
quer investir em um novo tipo de publicidade – a afirmativa. Para isso, a
agência emprega o conhecimento tecnológico e social dos jovens dos
morros e ajuda na formação profissional deles. “Tem uma molecada muito
boa de 15 e 16 anos nas favelas”, diz Anderson França, responsável pela
agência, que brinca se apresentando como o “CEO of Whatever” (algo como
“presidente executivo do que der e vier”).
Músico nascido no subúrbio carioca, França começou a trabalhar no
grupo cultural Afrorregae, uma das maiores instituições que realizam
trabalhos sociais em favelas cariocas. Mas o trabalho assistencialista
era pouco perto do que ele planejava fazer.
“Uma ONG tem uma série de limitações. Ela não pode criar um produto
que seja vendido por menores. E quando você fala de publicidade e social
media, você fala essencialmente de jovens. Não dá para fazer trabalho
que gere lucro”, diz. Há outras questões: para Anderson, grandes ONGs
não têm tanta independência para atuar por causa da relação delas com o
poder público.
A saída foi a criação de uma empresa focada na criação de conteúdo a
partir da favela, de maneira independente e autossustentável. “Nós já
recusamos jobs de empresas grandes. Por outro lado, já aceitamos
projetos de garagem”, diz França. Todos os projetos têm como base a
própria cultura da favela: o funk, a moda, o hip hop, o samba.
A favela vende. E não é de hoje. A estabilidade econômica trouxe uma
nova realidade aos morros cariocas – redes de varejo, internet e TV a
cabo. E, com esse desenvolvimento, surgiu também um mercado promissor
que começou a chamar a atenção de grandes empresas.
A Dharma surgiu para servir como ponte, ligando as agências e
empresas tradicionais ao universo da favela, e também os jovens dos
morros a essas empresas. “O papel de uma agência não é apenas vender um
produto, mas também fazer proposições a partir da fala da favela.
Questionamos a publicidade tradicional. Menos consumo, mais cidadania”,
diz França.
Difusão do funk. O plano começa a ser concretizado
agora com o lançamento da marca Funk You (abreviado por Fnku), um
projeto que engloba várias empresas para fortalecer a marca do funk – e
todo o modelo de negócios que ele carrega.
O resultado é uma marca que usa o princípio do “copyleft” (sem
restrições de direitos autorais) que pode ser copiada, modificada e
remixada à vontade. “É uma marca sobre o funk, dentro do conceito de
open source (código livre), que são negócios abertos, como o Linux, como
Wikipédia, cujo valor é exatamente ser uma marca manipulável pelos
atores que interagem com ela”, diz França. Os cartazes abaixo são parte
do projeto.
Na Dharma, quem executa o trabalho é quem está dentro da cultura do
lugar: os jovens dos morros. “E eles não são assistidos. São
profissionais”, diz França.
Não foi difícil encontrar mão de obra qualificada. A aproximação de
grandes empresas e ONGs com as favelas – sem falar de filmes como Cidade
de Deus, que lançaram holofotes sobre a realidade das comunidades –
formou uma nova geração acostumada com a internet e a linguagem da
comunicação digital – redes sociais, câmeras, cinema, televisão.
Há pessoas de 19 e 20 anos que já foram para o prêmio internacional
de publicidade em Cannes, na França, ou participaram de projetos no
Projac, o complexo de estúdios da TV Globo. “Essa galera já faz coisas
sozinha, produz documentários, são designers”, diz França.
Isso não impede que a Dharma também tenha um papel de formar os
jovens. Mas a profissionalização nunca é do zero. “Nós conhecemos alguns
jovens que são designers e estão começando, pegando o Mac e
desenvolvendo os primeiros trabalhos, e o levamos para passar o dia em
uma agência. Pegamos esse jovem do ponto em que ele está e o colocamos
objetivamente no mercado”, diz ele. “Esse jovem tem um potencial
criativo muito grande e não pode ser usado como mão de obra
subempregada. Ele não deve ser o garçom ou o faxineiro na Olimpíada. Ele
tem de ser o gestor, o designer.”
No Funk You, há várias ideias para serem colocadas em prática. Uma
delas, por exemplo, é a produção de roupas. “Será totalmente produzida
Made In Favela. Tudo. Corte a design, até a venda”, diz França. Outro
projeto que deve começar em 2013 serão aulas de desenvolvimento de
aplicativos para os jovens. O plano é criar uma aceleradora ou
incubadora de startups. “Queremos que os jovens desenvolvam software
dentro da favela. Queremos colocar essa molecada em contato com essa
tecnologia para que eles deem um salto. Queremos cortar os
atravessadores”, diz França. Os projetos são colocados em prática com
parceiros como a Fundação Telefonica, a agência Cubo.CC e a Escola
Superior de Propaganda e Marketing, entre outros parceiros.
“Trabalhamos no modelo de rede. Quando conseguimos um job, dividimos
os percentuais para que todos participem horizontalmente. Decidimos tudo
coletivamente. A Dharma está virando uma holding”, diz o empreendedor.
6 de janeiro de 2013 - 19h33
Leia mais:
Caderno Link Jornal Estado de S Paulo no papel – 7/1/2013
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Comentário do Blog, Fotônica Século 21:
O grande diferencial da Info Era ou Era da informação, são o surgimento dos novos aparelhos e dispositivos microeletrônicos, gadgets, smarthphones, tablets, ipads; verdadeiros computadores de bolso que cada vez mais manipulam imagens e fótons, algo inimaginável a alguns anos atrás; e daqui a algum tempo próximo será comum aparelhos não apenas 3D, mas com projeção holográfica.
Esta notícia delinia e direciona tendências tecnológicas de novas profissões que estarão em alta nos próximos anos e décadas, este exemplo demonstra que o Brasil, poderá e deverá criar formas de absorver e desenvolver a criatividade de nossa juventude frente ao mercado de aplicativos global.
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