No ano que vem, 150 escolas privadas adotarão o Uno, que chega de olho nas redes municipais
PAULO SALDAÑA , ENVIADO ESPECIAL , CIDADE DO MÉXICO -
O Estado de S.Paulo 17 de dezembro de 2012 | 2h 03
O Estado de S.Paulo 17 de dezembro de 2012 | 2h 03
A partir do ano que vem, 150 escolas particulares do Brasil vão
iniciar as aulas com um novo sistema de ensino já presente em alguns
países da América Latina. Ancorado no emprego de tablet, bilinguismo,
capacitação de professores e avaliações, o sistema Uno Internacional, da Santillana, chega à rede privada brasileira com olhos bem atentos no
gigantesco mercado de redes municipais.
O modelo foi desenvolvido no Brasil, mas adotado antes em outros
países da região. Neste primeiro ano, estarão envolvidos 75 mil alunos
de 150 escolas. Três prefeituras estão com a negociação avançada. "Temos
um objetivo forte de chegar à rede pública. O antecedente em escolas
particulares é importante", diz o diretor global da Uno Internacional,
Pablo Doberti.
No México, o Uno Internacional envolve 130 mil alunos de 420 escolas.
E a ideia é chegar a 1 milhão na América Latina em 4 anos. Para começar
a operar no Brasil, o Santillana investiu 22 milhões. O sistema tem
parcerias com Apple, Discovery, Animal Planet e Unesco.
Disputa. Em um País com 5.565 municípios, a rede pública é vista com
muito interesse pelas empresas de sistemas de ensino. Gigante no setor, a
Pearson já trabalha com 150 municípios. "No Brasil, a área pública é um
dos nossos vieses mais importantes. Além da competição, inovação e
profissionalização serão as batalhas", diz o superintendente de Educação
Básica da Pearson, Mekler Nunes.
Pesquisa realizada pelo setor em 2011 mostrou que 44% das prefeituras
paulistas adotavam algum sistema de ensino - os primeiros contratos de
municípios com sistemas privados foram feitos em 1999 pelo Grupo COC, em
cerca de 90 cidades.
Cada município adota um sistema diferente. Alguns abandonam
totalmente o uso dos livros didáticos distribuídos pelo governo federal.
Outros usam as apostilas, mas mantêm os livros como complemento.
Além disso, compras e aquisições impulsionaram a disputa. Há dois
anos, numa batalha com a própria Santillana, a Abril Educação comprou o
Grupo Anglo. Dias depois, a Pearson Education comprou parte do controle
acionário do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), controlador do COC,
Pueri Domus, Dom Bosco e Name, numa operação de R$ 888 milhões.
O Kroton, dono da Rede Pitágoras, com 226 mil alunos no ensino
básico, também teve 50% do controle acionário vendido para o Advent,
fundo financeiro internacional. Nesta área, restam dois grandes grupos
brasileiros, o Positivo e o Objetivo.
Experiência. O Uno Internacional é estruturado para o uso de
projetores em vez de lousa, além dos tablets, com aplicativos, vídeos,
jogos e textos. Todo o material didático é desenhado em cima das
matrizes de habilidades e competências. Os coordenadores do Uno insistem
que não é só colocar o tablet nas carteiras. A escola decide quantos
aparelhos compra e se os utiliza em todas as aulas.
A proposta é transformar a gestão para que se chegue a um estágio
cada vez mais avançado de digitalização. Uma tentativa de diminuir a
distância entre a escola e a imersão tecnológica na qual os jovens
vivem.
Como a maioria dos sistemas de ensino, não está prevista alteração no
currículo. O sistema também não prevê um modelo de ensino integral, que
fica a cargo de cada escola. "Não adianta impor uma mudança e chegar a
uma escola de forma experimental. O importante é ganhar escala",
argumenta Doberti.
Nas salas de aula, a presença do equipamento e sua aplicabilidade
parece conquistar os alunos. "Com o iPad é muito mais fácil. Acho que
aprendo mais, é mais divertido", explica o estudante mexicano Isaac
Garrido Morales, de 10 anos. Isaac é um dos 400 alunos da escola Green
Valley, em Puebla, a 130 quilômetros da Cidade do México.
Na escola Green Hills, no bairro San Jerónimo, na Cidade do México, o
professor de espanhol Hector Avila propôs que os alunos escrevessem um
poema baseado em uma música. Depois deviam, no iPad, buscar imagens na
internet que melhor representassem cada verso, musicar a composição e
transformar tudo em um vídeo.
O material seria encaminhado depois por e-mail para todos os colegas.
"Todas as aulas mudaram, mas espanhol foi a que ficou melhor", diz
Tamara Junqueira, de 14, já acostumada a usar seu tablet em casa.
Avila afirma que o caminho da tecnologia na sala de aula é
inevitável. "É um instrumento dessa geração. Nós, professores, temos de
nos adaptar a ele."
O educador Paulo André Cia, diretor do Colégio Arbos, no ABC
Paulista, decidiu pela adoção do sistema por conta desse avanço
tecnológico. "Com a possibilidade de usar iPad, a escola consegue
desenvolver uma sala com ambiente digitalizado que permite o uso de
aplicativo, e essa é a grande revolução", diz.
Capacitação. Romper a resistência e o receio dos docentes com novas
tecnologias e com a própria mudança faz parte do projeto. Professores e
diretores são capacitados antes de começarem a usar o sistema e
coordenadores regionais mantêm contato com a rede. Em janeiro, acontece a
capacitação dos docentes em Brasília. "O treinamento é intensificado na
implementação, mas o contato é permanente", explica a coordenadora do
Uno, Teresa Álvarez Garcillán, espanhola que vive no México.
A professora Irma Orozco, de 45 anos, da escola Fundação Imka, no
pobre bairro Tlahuac, também na capital mexicana, afirma que a
preparação é o ponto-chave para ter sucesso na sala. "O principal é
planejar a aula. Senão a gente perde o controle", diz ela.
Na sala de aula, Irma explicava aos alunos de 12 anos a linguagem do
rádio e sua função. No próprio tablet, eles encontravam o exercício e
digitavam as respostas.
"No começo deu uma insegurança, porque eles são muito mais rápidos com essas coisas que a gente."
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