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GLAUCO JOSÉ CÔRTE É PRESIDENTE DO SISTEMA FIESC |
Jornal O Estado de S.Paulo Economia
29 de dezembro de 2012 | 2h 04
Há ocasiões em que a opulência econômica e a euforia a ela associada
escondem problemas estruturais que levam à interrupção da bonança. Aconteceu nos países desenvolvidos, que viveram um longo ciclo de
crescimento até estourar a crise de 2008, provocada pela fragilidade do
sistema financeiro - conhecida, porém negligenciada. No Brasil,
escapamos do pior graças à solidez econômica, ao incentivo à demanda e à
incorporação de milhões de pessoas ao mercado de trabalho. Seduzidos
com os bons resultados econômicos dos últimos anos, também
negligenciamos graves problemas estruturais, como a baixa qualidade da
educação. Por isso, a continuidade do crescimento está ameaçada.
Daqui para a frente, o avanço de nossa economia estará associado ao
aumento da produtividade, pois o contingente de trabalhadores começa a
ficar limitado, assim como o espaço para expandir o crédito e aumentar
os salários. A indústria brasileira enfrenta dificuldades para competir
com seus concorrentes, que têm menores custos de produção e são
beneficiados pelo câmbio. Para melhorar a competitividade, precisamos de
trabalhadores que produzam mais riqueza. O norte-americano gera, em
média, cinco vezes mais riqueza do que o brasileiro. A baixa qualidade da educação básica e a falta de formação
profissional são as principais barreiras ao aumento da produtividade.
Pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou
que quase 70% das indústrias enfrentam problemas decorrentes do
despreparo dos trabalhadores. Em Santa Catarina temos o quarto maior
parque industrial brasileiro e a segunda posição no ranking da qualidade
da educação do País (Pisa 2009). Mas mais de metade dos trabalhadores
do setor não tem escolaridade básica completa. Diante da complexidade da
indústria moderna, ao menos 85% dos colaboradores deveriam ter o ensino
médio completo ou formação superior.
Um modo de ganhar produtividade é automatizar a produção, mas a
operação de máquinas modernas requer pessoal qualificado, capaz de
compreender seus manuais. A implantação de sistemas de gestão complexos
exige visão sistêmica. Raciocínio semelhante vale para a busca por
inovações de produtos e processos. A própria obtenção da qualificação é
limitada pelo baixo nível do ensino básico. Escolas profissionalizantes,
como o Senai, gastam tempo precioso ministrando noções básicas de
Matemática e Língua Portuguesa em seus cursos técnicos.
Já passou da hora de fazermos o dever de casa, para usufruir de um
novo ciclo de crescimento sustentável. Para isso, a educação deve ser
tratada como tema estratégico pelo poder público, como fez, aliás, o
governo federal com a instituição do Pronatec. É preciso, também,
repensar o modelo educacional do País, para alinhá-lo a um verdadeiro
projeto de desenvolvimento. O resultado não será apenas econômico, mas
também social, com o aumento da renda da população.
As soluções não dependem apenas dos esforços do poder público, ainda
que seja dele a responsabilidade maior. Por isso, o Sistema Federação
das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) lançou o movimento "A
Indústria pela Educação", com o qual passou a proporcionar cerca de 800
mil vagas em educação profissional, continuada e básica, dentre outras
modalidades, entre 2012 e 2014. De início, 500 empresas já firmaram
adesão, comprometendo-se a facilitar o acesso de seus trabalhadores aos
cursos oferecidos. O movimento busca difundir o conceito de que a
elevação da qualificação do trabalhador é um fator que pode ser
controlado pela própria empresa, porque diz respeito às suas estratégias
de competitividade e à gestão de riscos inerentes aos negócios. A
iniciativa está em sintonia com a CNI e será vigorosamente intensificada
nos próximos dois anos
Segundo Ian Morris, professor de Stanford, "cada era é abastecida
pelas ideias das quais necessita". A ideia de que chegou a vez de
qualificar a educação brasileira parece que, finalmente, se tornou uma
prioridade.
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