domingo, 21 de outubro de 2012

Educação - Empresas criam as próprias universidades

Companhias investem em cursos de formação para atender à demanda do mercado por mão de obra cada vez mais qualificada 

 





Danielle Nogueira - O Globo
 
Com a crescente competitividade do mundo corporativo, muitas empresas não podem se dar ao luxo de esperar que o sistema educacional ofereça os melhores profissionais recém-saídos dos bancos escolares. Para suprir a demanda do mercado de trabalho e reter talentos, grandes corporações vêm investindo em estruturas de treinamento e formação de pessoal, as chamadas universidades corporativas.

Algumas dessas academias são voltadas exclusivamente para os funcionários; outras, abertas ao público. Mas o fato é que elas ocupam cada vez mais espaço nas empresas brasileiras e atravessam fronteiras, chegando a filiais no exterior.

Na Valer - braço da Vale para educação -, o leque de cursos é amplo. São 6.700 opções, divididas em dois grupos: o de educação continuada, voltado para os empregados; e os programas de fomento, direcionados ao público em geral. Nesta última modalidade estão o Programa Formação Profissional e o Programa de Especialização, destinados a aspirantes ao primeiro emprego na mineradora. Em média, o índice de aproveitamento é de 70%.

Só em 2011, a empresa treinou 57 mil pessoas no País, considerando todas as modalidades de treinamento, e investiu um total de R$ 68 milhões em educação. "A Valer nasceu da necessidade de mão de obra especializada, tanto em nível técnico, como motoristas para caminhões fora de estrada (usados nas minas), e em nível superior, caso das engenharias de minas e ferroviária. Estes são exemplos de cursos que tivemos de criar, pois simplesmente não existem no mercado", diz Desiê Ribeiro, gerente-geral de Educação e Desenvolvimento de Pessoas da Vale.

Tal carência de capacitação fez a Valer abrir as portas para quem não é funcionário. Nesse caso, as aulas são em período integral e os estudantes têm bolsa mensal de R$ 600 a R$ 4.300, dependendo no nível de formação. Esse modelo também é aplicado no exterior. Criada em 2003, a Valer tem 34 unidades no País, em Canadá, Suíça, Moçambique, Omã, Malásia e China.

Conhecimento. Votorantim e Petrobrás seguem um modelo distinto. Na primeira, o foco é a preparação de líderes, até mesmo fora do Brasil. Além das três bases em São Paulo, Peru, Colômbia, Argentina e Canadá contam com filiais da Academia de Excelência Votorantim. Elas são voltadas aos funcionários e à capacitação de fornecedores. Os cursos criam uma identidade global para a companhia e visam a alinhar processos e práticas corporativas, facilitando o diálogo e dando coesão às equipes. Desde seu lançamento, em 2006, a universidade da Votorantim já teve quase 25 mil participações. Em 2011, ela recebeu investimentos de R$ 5,7 milhões.

Na Universidade Petrobrás, as aulas são exclusivamente para funcionários, e todos os empregados concursados passam pelo menos uma vez pela instituição, para um curso de ambientação, que dura de 3 a 13 meses, dependendo da função que desempenharão na companhia.

Fora esse contato inicial com a universidade, parte deles é orientada a voltar para a sala de aula para aprimorar os conhecimentos. Os mais de mil cursos abrangem assuntos que vão desde tecnologias de exploração em alto-mar a estratégias de gestão de negócios. Eles são ministrados em duas unidades: em Salvador e no Rio, onde a universidade ocupa um prédio de oito andares, no centro.

Em um deles, a Estação SMS, os empregados aprendem normas de segurança e meio ambiente usando simuladores de terceira dimensão. "Temos pessoas com diferentes formações que desempenham a mesma função. Um dos objetivos da universidade é trazê-las para o mesmo nível", diz Juliano Loureiro, gerente de suporte à gestão da Universidade Petrobrás. "Além disso, ao criarmos uma estrutura própria, mantemos a cultura organizacional da empresa e preservamos o conhecimento."

Formação direcionada. Com dois mil docentes, entre professores fixos e funcionários designados como instrutores, a Universidade Petrobrás ganhou destaque na companhia no início dos anos 2000, quando a empresa voltou a admitir pessoal após longos anos sem concursos.

Este ano, seu orçamento é de cerca de R$ 200 milhões, acima dos R$ 185 milhões de 2011, quando a empresa registrou 82 mil participações - algumas pessoas participam em mais de um curso - em seus treinamentos.

Para o gestor de Parcerias e Soluções Corporativas do Ibmec, Antonio Carlos Kronemberger, as universidades corporativas vêm se fortalecendo porque as empresas perceberam que elas proporcionam uma melhor gestão do conhecimento e a preservação desse conhecimento nas corporações.

"As empresas pagavam MBAs e cursos de especialização para seus funcionários e, assim, retinham esses empregados enquanto eles faziam os cursos. Mas, ao mesmo tempo, estavam preparando os funcionários para o mercado. Era mais um plano de carreira pessoal do que um benefício para a organização. Nas universidades corporativas, o conhecimento é direcionado aos objetivos estratégicos das empresas", diz Kronemberger. 

A universidade corporativa da Ambev completa 17 anos em 2012, herança da Brahma. Os programas de treinamento são divididos em três eixos, entre eles liderança e cultura, que visa a ressaltar o comprometimento com a missão e a cultura da companhia, uma espécie de propagação do "jeito de ser Ambev".

Segundo a empresa, 95% das pessoas que ocupam cargos de gerência passaram pelos cursos. Em 2011, foram treinados mais de 42 mil funcionários e investidos R$ 27 milhões no programa. "Embora tenhamos cursos de nível técnico, damos especial atenção ao fomento da cultura da empresa", diz Fabiana Overrath, especialista em treinamento da Universidade Ambev.

Jornal O Estado de São Paulo

21 de outubro de 2012 | 23h 00 




 

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